10 de março de 2011

Viva La ....

Era fim da tarde, e o céu negro pelas nuvens e pela a poluição que o dia acumulou, escondia o sol na linha longe do horizonte das colinas, onde a cidade se erguia sobre uma pequena timidez e pouco a pouco, pequenos pontos luminosos pintavam as ruas, onde a multidão agitada, regressava a casa após mais um longo dia de trabalho. A oeste, pequenos raios de luz expeliam-se em rasgões ferozes, penetrando a cidade com um sangue estonteante, que se misturava aos raios tão reais como só o sol oferece ao adormecer. Era a luz refractada. Um laranja tão profundo e brilhante que deslumbrava as mais duras almas. No alto, em dias timidos, a lua esboçava o mais belo sorriso. Sorria-me. Não só a mim, mas a quem a contempla-se....

Chega!

Havia-se criado naquela época a ideia que o velho pastor renunciara um cargo de alta importância na classe eclesiástica e que havia preferido isolar-se no conforto do monte. Certo é, que poucas pessoas conheciam a sua historia . Não sei se gostava de permanecer isolado, mas assim vivia, deslocando-se apenas quando necessário à mercearia ou aos correios. Era um remédio natural para os seus pensamentos, diziam alguns, que o julgavam, contaminados pelas as ideias filosóficas que surgiam banalmente na boca do povo. Afinal a televisão tinha esse poder, desconstruir a ideia e reconstrui-la redundante nas mais variadas formas.

A história do nosso herói, ou pelo menos o assunto que aqui nos trás, começa à cerca de dez anos atrás, quando ainda era um reputado Bispo. Bastante respeitado por toda a igreja, surgiam boatos que haviam planos para o tornar Cardeal. Já nessa altura, o Bispo estava relutante se havia escolhido ou não um caminho adequado. Já com cinquenta anos, pesava-lhe na cabeça os textos literários que tinha lido, aquém do que a igreja o ensinara. Na verdade, a sua crença desvanecera, ou em menor grau, tornara-se uma frágil folha que ao libertar-se da velha árvore demorava a pousar em terreno duro para a próxima transformação, vagueando ainda nos lençóis do vento, que nem sempre tornava o seu destino agradável. Não perdendo em qualquer dos casos a certeza que na mesma se encontrava um grande grau de verdade, duvidava em toda a palavra proclamada pela instituição a que pertencia. Já não reconhecia o respeito que outrora acreditara haver. A humildade e a altruismo que a mesma defendia, via-as como simples construções teatrais, para que nos bastiadores as grandes decisões fossem tomadas, sem que o publico soubesse a verdade, pois nas peças os autores esforçavam-se para representar o seu papel, e quanto mais afinco e dedicação, mais os seus actos eram tidos como certos e adequados. Chegara-se mesmo ao ponto, em que tal era a tamanha eloquência, que a representação misturava-se com o real, e na miscelânea, a loucura tomava a sanidade, não se compreendendo em concreto o que estaria a ser representado. Foi neste contexto que o bispo decidira-se retirar.

As razões que levaram o nosso personagem a tomar essa mesma decisão ficam aquém da nossa tentativa de explicação. Não é possível esboçar um quadro que preencha tais requisitos com as evidências que foram possíveis "juntar".


Ao chegar ao monte recordou-se dos tempos de criança, pelas palavras do próprio "tanto tempo de vida citadina fez-me esquecer as mais belas manhãs de abril após a chuva nocturna, a natureza que os meus olhos já pouco visitavam nos dias agitados foram atingidos como um relampago na paisagem aberta". De seguida, descreve
______________________________________________________________

Que horrivel! Jamais voltarei a escrever.