Sinto uma vontade difícil de explicar. Uma vontade de estar, ser, sentir, não sei o quê, não sei onde, nem muito menos o como e o porquê!
Sinto-me confusa, enrolada nos meus próprios pensamentos, nas minhas próprias palavras, nos meus próprios sonhos.
Sento-me cabisbaixa, mãos entre os joelhos, olhar vidrado nas pedras desta calçada, mais preocupado em fitar os relevos irregulares e geométricos do chão que piso.
Ouço o vento que me atravessa e faz esvoaçar os cabelos soltos, livres, sem limites... que me acariciam a face e me abraçam o pescoço.
Cheiro o sol que bate em mim, em cada centímetro de mim, e me clona no chão... tamanha personagem prisioneira a mim e a este chão que me pisa.
Saboreio o ar que respiro, absorvendo toda a sua imensidão, toda a sua simplicidade, todo o seu poder.
Tudo à minha volta permanece numa beleza estática e intemporal, como se o mundo estivesse em pausa, enquanto eu apreciava sozinha a sua beleza... Levanto e caminho neste chão, levando a vontade, o vento, as pedras da calçada, a sombra e o ar. Um só ser único! Sinto-me envolta em magia, leve, pura, com um poder incalculável que nem eu nem ninguém poderá alguma vez quantificar! Fecho os olhos e deixo-me levar pelos trilhos que o vento constrói para mim, simplesmente para eu passar! As flores curvam-se perante mim e oferecem-me as suas pétalas, tamanha dádiva que forma a ponte para o paraíso. Caminho descalça neste chão aveludado e perfumado que ganha cor à minha passagem. E... voo... Perco o sentido ao momento, perco o rumo do vento, perco a vontade do sol, perco o pensamento... Flutuo vazia no vazio que me circunda. Deixo de sentir o ar que me toca, de ver a cor do meu corpo, de cheirar este mundo.
Desapareço no ar como a névoa da manhã. Silenciosa... Subtil... Em paz... Feliz...
E acordo...
12 de junho de 2010
8 de fevereiro de 2010
Brilhava
Brilhava a luz tremule no cimo de uma vela, deixada num prato de prata revestido em ouro.
Entre as paredes castanhas, de carvalho antigo, sobre uma mesa que completava o carácter pobre e rústico da velha cabana. Na cama, que chegava a altura dos joelhos, gemia um corpo desassossegado. Berrando sem palavras sons que ardiam em chamas como o crepitar da raiva do fogo engolindo toda a montanha para tocar o céu. As palavras eram incompreensíveis mas agitadoras. Ao seu lado, uma velha senhora acariciava o seu rosto cantando uma lira apaziguadora. Não eram palavras, mas distinguíveis os sons que libertava. A velha mulher entoava numa velha linguagem que à muito não se ouvia, e que retornava, no momento em que o corpo se torcia e se perdia no mar turbulento. A cada momento que passava, o corpo contorcia-se mais, tornando a voz mais pesada, grave e agressiva.
O silêncio ao redor era absoluto, as árvores, debaixo da noite que afugentava o olhar divino com as nuvens negras tempestuosas, permaneciam paradas no tempo.
O vento deixara de soprar. Os pássaros ouviam ansiosos. A luta começava.
Ressoava, no bosque infinito, a voz grave e violenta, apaziguada na musica doce e terna.
Entre as paredes castanhas, de carvalho antigo, sobre uma mesa que completava o carácter pobre e rústico da velha cabana. Na cama, que chegava a altura dos joelhos, gemia um corpo desassossegado. Berrando sem palavras sons que ardiam em chamas como o crepitar da raiva do fogo engolindo toda a montanha para tocar o céu. As palavras eram incompreensíveis mas agitadoras. Ao seu lado, uma velha senhora acariciava o seu rosto cantando uma lira apaziguadora. Não eram palavras, mas distinguíveis os sons que libertava. A velha mulher entoava numa velha linguagem que à muito não se ouvia, e que retornava, no momento em que o corpo se torcia e se perdia no mar turbulento. A cada momento que passava, o corpo contorcia-se mais, tornando a voz mais pesada, grave e agressiva.
O silêncio ao redor era absoluto, as árvores, debaixo da noite que afugentava o olhar divino com as nuvens negras tempestuosas, permaneciam paradas no tempo.
O vento deixara de soprar. Os pássaros ouviam ansiosos. A luta começava.
Ressoava, no bosque infinito, a voz grave e violenta, apaziguada na musica doce e terna.
31 de janeiro de 2010
Um Momento Efémero
Acordo e revolto-me na cama com aquela brecha de luz que teima incansavelmente ferir-me os olhos. Mais um dia que se avizinha e eu ali, preocupada com aquela arma inofensiva. Luto no meio dos lençóis para chegar ao controlo remoto da TV, e ligo-a. Olho então para o lado e... tudo está vazio. Apenas as sombras trémulas dos móveis e dos cobertores mal dobrados dão vida a este quarto. Eu continuo ali... morta... para a felicidade. Ganho forças para levantar todo este peso moribundo e vencer a gravidade que teima em fazer este jogo de forças comigo. Percorro os corredores de forma transcendente e deslizante como se algo ou alguém me transportasse por este espaço que é só meu. Só meu. Ligo a torneira da banheira que depressa começa a enublar aquele espaço, como se de um céu se tratasse. As nuvens começam a ganhar formas boiando em cima daquela água quente. Entro devagarinho naquele paraíso e deito-me. Fecho os olhos...
É então que ouço a porta da rua a bater, como um chamamento ou encantamento que me envolve naquele momento e me faz sorrir. O rádio que passa os dias mudo de repente, ganha magia e liberta o pó acumulado pelos séculos preenchendo a casa de notas. Juntamente com o bater ritmado do meu coração ouço os suaves toques no soalho que vais deixando à medida que passas. Hummm... Sinto um leve perfume rosal bem perto de mim, assim como a tua respiração que me dá o alerta da tua existência. Sorrio... e sinto um leve toque veludado e quente nos meus lábios que me provoca um chorrilho de conceitos que até ali se encontrava adormecido no meu ser. Encaixas-te em mim como se de peça de puzzle perdida no tempo se tratasse. E vivemos ali os dois, eternamente, naquele paraíso improvisado onde só o nosso coração se ouve no meio dos ecos da paixão. Como tudo começou, tudo acaba e perco o sentido ao mundo e à tua presença. E... abro os olhos...
Atordoada com os pensamentos que assolam freneticamente nesta mente confusa, olho em redor à procura de um pedaço da tua existência. Serias um sonho?
Talvez sim... talvez não... Mas ficarás para sempre marcado neste espaço. Tão meu... Tão teu... Tão nosso!
É então que ouço a porta da rua a bater, como um chamamento ou encantamento que me envolve naquele momento e me faz sorrir. O rádio que passa os dias mudo de repente, ganha magia e liberta o pó acumulado pelos séculos preenchendo a casa de notas. Juntamente com o bater ritmado do meu coração ouço os suaves toques no soalho que vais deixando à medida que passas. Hummm... Sinto um leve perfume rosal bem perto de mim, assim como a tua respiração que me dá o alerta da tua existência. Sorrio... e sinto um leve toque veludado e quente nos meus lábios que me provoca um chorrilho de conceitos que até ali se encontrava adormecido no meu ser. Encaixas-te em mim como se de peça de puzzle perdida no tempo se tratasse. E vivemos ali os dois, eternamente, naquele paraíso improvisado onde só o nosso coração se ouve no meio dos ecos da paixão. Como tudo começou, tudo acaba e perco o sentido ao mundo e à tua presença. E... abro os olhos...
Atordoada com os pensamentos que assolam freneticamente nesta mente confusa, olho em redor à procura de um pedaço da tua existência. Serias um sonho?
Talvez sim... talvez não... Mas ficarás para sempre marcado neste espaço. Tão meu... Tão teu... Tão nosso!
Assinar:
Postagens (Atom)