Acordo e revolto-me na cama com aquela brecha de luz que teima incansavelmente ferir-me os olhos. Mais um dia que se avizinha e eu ali, preocupada com aquela arma inofensiva. Luto no meio dos lençóis para chegar ao controlo remoto da TV, e ligo-a. Olho então para o lado e... tudo está vazio. Apenas as sombras trémulas dos móveis e dos cobertores mal dobrados dão vida a este quarto. Eu continuo ali... morta... para a felicidade. Ganho forças para levantar todo este peso moribundo e vencer a gravidade que teima em fazer este jogo de forças comigo. Percorro os corredores de forma transcendente e deslizante como se algo ou alguém me transportasse por este espaço que é só meu. Só meu. Ligo a torneira da banheira que depressa começa a enublar aquele espaço, como se de um céu se tratasse. As nuvens começam a ganhar formas boiando em cima daquela água quente. Entro devagarinho naquele paraíso e deito-me. Fecho os olhos...
É então que ouço a porta da rua a bater, como um chamamento ou encantamento que me envolve naquele momento e me faz sorrir. O rádio que passa os dias mudo de repente, ganha magia e liberta o pó acumulado pelos séculos preenchendo a casa de notas. Juntamente com o bater ritmado do meu coração ouço os suaves toques no soalho que vais deixando à medida que passas. Hummm... Sinto um leve perfume rosal bem perto de mim, assim como a tua respiração que me dá o alerta da tua existência. Sorrio... e sinto um leve toque veludado e quente nos meus lábios que me provoca um chorrilho de conceitos que até ali se encontrava adormecido no meu ser. Encaixas-te em mim como se de peça de puzzle perdida no tempo se tratasse. E vivemos ali os dois, eternamente, naquele paraíso improvisado onde só o nosso coração se ouve no meio dos ecos da paixão. Como tudo começou, tudo acaba e perco o sentido ao mundo e à tua presença. E... abro os olhos...
Atordoada com os pensamentos que assolam freneticamente nesta mente confusa, olho em redor à procura de um pedaço da tua existência. Serias um sonho?
Talvez sim... talvez não... Mas ficarás para sempre marcado neste espaço. Tão meu... Tão teu... Tão nosso!
31 de janeiro de 2010
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não resisti em não comentar. Pequena flor colhida no coração. Belo texto Andreia ;)
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